Garrett McNamara: "Quero ver outras ondas em Portugal. Sinto-me Vasco da Gama"
Enquanto isso, McNamara está a dar aulas a jovens naquela praia, uns que ainda mal se seguram nas pranchas, a primeira de várias sessões que envolvem uma campanha patrocinada por uma empresa de café que é sponsor do atleta. Mas no que mais se repara não é no surfista dentro do seu meio aquático porque não lhe é permitido estar dentro de água ou no areal próximo sem estar a responder a um fã ou a dar autógrafos. É preciso esperar mais de meia hora para se poder afastar da multidão, ir tomar um duche e sentar-se à mesa do restaurante A Celeste, onde toma a maior parte das refeições enquanto está naquela vila portuguesa. Refere-se à proprietária, Celeste, como a sua mãe, e não é por acaso. É que o carinho que é dispensado ao norte-americano é como se fosse ao filho pródigo cada vez que regressa à Nazaré. Até tem dois menus à Garrett McNamara na lista do estabelecimento, um com robalo como prato forte e outro com lulas, que é o que mais aprecia, além de uma salada com vegetais e frutas polvilhados com sementes de sésamo.
Diga-se que o surfista é o melhor relações-públicas da vila, e não será por acaso que quando vai surfar para as ondas gigantescas fabricadas pelas rochas submarinas que compõem o canhão da Nazaré sejam milhares as pessoas que se instalam na encosta atrás do farol para ver as performances em ondas que chegam aos 30 metros de altura. McNamara não se incomoda em repetir pela milésima vez a sensação promovida por aquelas ondas gigantescas ou a terrível experiência nos glaciares. É preciso pensamento positivo, repete frequentemente.
Não é difícil encontrá-lo na praia da Nazaré, basta ver onde é que está a multidão à volta de um homem. Gosta de ter tantos fãs?
Estamos numa região do país onde o oceano é mais conhecido por trazer a morte do que facilitar a vida. Creio que quando me viram em cima das suas ondas, os habitantes ficaram muito orgulhosos delas e de o mundo saber como eram.
Ondas grandes não faltam por esse mundo fora.
É verdade que há muitas, mas também sei que as pessoas de todo o mundo adoram ver ondas grandes e são fascinadas por ondas gigantes. Aqui na Nazaré existe uma particularidade além dessas ondas reais, é que se podem observar com o farol em perspetiva, o que altera toda a visão. Ali do farol é um bom lugar para tirar fotografias e ter uma noção da altura das ondas, o que seduz toda a gente, quer façam surf ou não.
Ainda não estão cansados de o ver sobre as ondas do canhão da Nazaré ao fim de todos estes anos?
O que eu sei é que isto fica melhor a cada ano que passa. São quatro anos nisto e todo o mundo viu as imagens nos jornais e nas televisões. A CNN veio no primeiro ano filmar, voltou no segundo e não perdeu o terceiro e o quarto ano em que o faço. O nosso projeto agora é mostrar o que é a Nazaré e o que é Portugal ao resto do mundo através destas ondas gigantes. Quero cativar a atenção de toda a gente e mostrar como o país é fascinante.
Refere-se à sua ocupação como "o nosso projeto". De quem é este projeto além de seu?
Dos meus amigos, da minha mulher e da equipa que me tem acompanhado.
Regressemos ao princípio desta história toda. Como é que descobriu que existia uma onda gigante tão longe dos spots que era habitual frequentar?
É uma história normal. Há uns anos alguém desta região enviou-me informações sobre as ondas gigantes no canhão da Nazaré. Fiquei curioso e logo que pude vim ver se era verdade, confirmar se essa informações eram de confiança como as referiam. E meu Deus, não é que as ondas pareceram-me mesmo as maiores ondas que eu já vira? Ando pelo mundo inteiro à procura de ondas grandes e estou acostumado o suficiente para não me deixar surpreender facilmente.
É habitual receber muitos e-mails como esse que alguém lhe enviou aqui da Nazaré a falar das ondas gigantes?
Sim, acontece frequentemente. E eu leio sempre os e-mails porque não sou como os outros surfistas. Sabe que isto do surf torna-nos preguiçosos.
Confiou nas informações daquele e-mail, ou não teria vindo até cá?
Pedi ao autor do e-mail que me enviasse fotografias e quando vi fiquei muito interessado. Eu não sabia nada da Nazaré, e no primeiro e--mail ele dizia-me que era perto de Lisboa, numa pequena vila piscatória. E aliciava-me a dizer que era um lugar onde me podia divertir. Isso passou-se há uns cinco anos.
Então, quer dizer que demorou imenso tempo até vir cá para ser apresentado às ondas da Nazaré?
Sim, a troca de e-mails continuou durante muito tempo e só viajei anos depois do primeiro alerta.
O seu "correspondente" era alguém da Nazaré?
Sim, era era daqui mesmo. Depois conhecemo-nos, até porque ele pratica bodyboard.
Mesmo gostando muito da Nazaré, esta descoberta não foi a sua única recentemente. Creio que há pouco tempo teve uma outra experiência também bastante diferente, a dos glaciares?
Sim, e posso dizer que fazer surf nos glaciares é talvez a mais aterrorizadora experiência que se pode ter.
Onde é que foi?
É no Alasca, onde a temperatura da água é bastante fresca e o cenário é daqueles que impressionam: um glaciar com cem metros de altura, que se desfaz e quando cai sobre a água provoca uma onda incontrolável e veloz.
Até que ponto é mais perigoso do que as ondas a que já está acostumado na Nazaré?
Só posso dizer que é do mais perigoso que qualquer um possa imaginar e incomparável com o que eu já alguma vez fiz.
Explique lá como é que é surfar numa onda provocada por um glaciar?
A primeira situação a respeitar é conhecer uma pessoa que saiba bastante sobre os glaciares. É um pouco como aqui na Nazaré, falar com quem sabe daquilo e não avançar sem saber bem ao que vamos.
Mas como é que os glaciares provocam ondas?
A onda surge quando uma parte do glaciar se desprende e cai na água. Só que quando isso acontece, o gelo quebra e vem acompanhado de muitos detritos. Esses fragmentos podem ser extremamente perigosos para quem está no jet ski e para quem está na prancha. A única forma de o fazer em segurança é contar com uma equipa muito bem organizada e ter perdido muito tempo a ouvir os habitantes locais sobre o que acontece e partilhar o conhecimento deles para que tudo corra bem.
Ou seja, é sempre fundamental o espírito de equipa na sua atividade?
Sim, é verdade. Uma coisa que eu já sei há muito tempo é que neste tipo de situações é impossível ser-se bem-sucedido sem essa grande ajuda da equipa. Como já disse, em tudo aquilo que eu faço sinto sempre a necessidade de rodear-me de pessoas bastante conhecedoras e, principalmente, com muita energia positiva. Daquelas que têm os mesmos objetivos que eu.
Teve medo quando o jet ski o largou na primeira vez em que surfou a onda gigante na Nazaré?
A primeira grande sensação é de que é muito inconfortável porque é tudo bastante sensível e tão rápido e poderoso que é necessário estar-se sempre com muita atenção. O meu grande objetivo quando estou na onda é encontrar o túnel, enfiar-me nele e continuar.
Como é que gere a "condução" da prancha dentro da onda? Fá-lo só por instinto ou está preocupado em se aperceber do que se está passar a todo o momento?
Por mais treino que tenha, por mais conhecimento que possua, a única certeza que posso referir que está sempre presente enquanto estou sobre a onda é a de que o instinto é que guia o que faço, como numa atitude que vem diretamente do meu coração. Temos técnica e conhecimento mas segue-se o instinto na máxima percentagem.
Quando surfou a onda gigante da Nazaré pela primeira vez o que respeitou mais: o instinto ou a técnica?
Da primeira vez que experimentei as ondas do canhão da Nazaré, posso dizer que o instinto foi suficiente, afinal fiz sempre as minhas ondas grandes logo ao primeiro dia. Agora, o que eu não imaginava na primeira vez foi que aquela onda seria tão forte. Só posso dizer que quando se pega aquela onda é preciso respeitá-la bastante.
Respeitá-la nos primeiros segundos e depois aproveitar a sensação?
Aquela onda gigante necessita de uma manobra que é um pouco contraditória, porque preciso de me concentrar na realidade do momento que está a acontecer, mas esta fase depende de uma manobra anterior para me posicionar. Alguém observa as ondas para escolher a melhor e depois é a manobra com o jet ski para me posicionar. Estar atento ao que estamos a fazer em certa parte para chegar a outra em que se surfa a onda. Agora, com a experiência, é tudo muito mais natural, mesmo que seja sempre preciso estar bastante atento às manobras. Só então é preciso abrandar e entrar no túnel.
As ondas da Nazaré são muito diferentes daquelas que surfa, por exemplo, no Havai?
Estas ondas são diferentes de quaisquer outras em qualquer parte do mundo. O segredo da Nazaré é o canhão, que transforma as ondas numa barreira gigantesca e maior do que qualquer onda que já fosse grande. É uma barreira de água que chega sem sabermos quando, que vem chegando e, de repente, ali está ela bem à nossa frente.
Sabendo-se que é uma onda perigosa, o que faz para evitar que os outros surfistas que o querem imitar se ponham em risco?
Aí só posso dizer uma coisa: cada um faz o que quiser. Eu não posso impedir ninguém de fazer aquilo que pretende.
Mas não receia que os outros praticantes pensem "se ele faz eu também consigo"?
Sinto, é verdade, alguma responsabilidade por quem tenta surfar as ondas da Nazaré por me ter visto antes. Mas isso não se passa só ali, pois quando vamos fazer surf em diferentes spots pelo mundo acontece o mesmo comigo quando quero experimentar as ondas que desconheço. Ao chegar a esse spot diferente, faço sempre muitas perguntas às pessoas dali sobre como se comportam as ondas naquela região. Ou falo com profissionais da Marinha, com os locais relacionados com a vida no mar, ou com os mergulhadores. Eu ouço toda a gente que me pode dar informações sobre o meu desafio. É pesquisar, pesquisar; estudar, estudar, até saber o máximo possível. É isso que se deve fazer quando se vai para um lugar diferente: fazer toda a investigação possível, perguntar tudo às pessoas que ali vivem.
Este é um mar no qual os pescadores morrem por irem trabalhar e onde é preciso muita coragem para se ter essa profissão. O que pensa deles?
Eu tenho muito respeito pelos pescadores da Nazaré, quanto mais não seja pela sua coragem. É o mesmo sentimento que tenho pelos surfistas e pelos bodyboarders que fazem isto há anos neste mar, muito antes de mim. Respeito-os e agradeço por me deixarem trabalhar com eles, aprender e ser aceite por eles.
Já alguma vez foi ao mar com estes pescadores?
Sim, isso já aconteceu. Andámos no mar horas e horas. Olha-se para as mãos deles e cada uma conta tantas histórias. Gosto de estar a fazer o meu trabalho e sentir que são meus amigos. Sinto-me como estando em família.
O que pensa das mulheres dos que já morreram, de tantas viúvas que se veem por aqui?
Elas são fortes, ainda mais fortes do que os homens. A minha mulher também é assim. Elas é que fazem sempre o trabalho mais difícil enquanto nós estamos ocupados a fazer os nossos trabalhinhos. Tratam de tudo, das crianças, elas não param.
Já vi que gosta de crianças pela atenção que lhes tem dado enquanto falamos...
As crianças são o futuro e devemos fazer o nosso melhor para deixarmos o mundo em condições para que eles possam viver.
Quantos filhos tem?
Quatro. Três de um anterior casamento e um deste. Têm 19, 17, 6 anos e o mais novo quase 1.
O que pensam eles da sua profissão?
O normal, que é uma forma de viver. Aliás, desde que nasceram que sempre os levei para o surf como se fosse uma coisa normal.
E surfam?
Sim, um deles está a lançar-se devagar, mas não fazem surf como eu. Espero mesmo que nunca o façam pois iriam deixar-me bastante preocupado o tempo inteiro. No entanto, se o quiserem fazer terei de aceitar.
Quando é que descobriu esta sua vocação?
É uma longa história, mas aconteceu quando nos mudámos para o Havai. Quando vivemos perto do oceano é impossível resistir a isto, mesmo que tenha visto que existem muitos habitantes que vivem no meio do Havai e nunca viram o mar e outros que nunca foram nadar no mar, mesmo que a maioria dos havaianos goste dos desportos náuticos. Após a primeira vez que se experimenta o surf é impossível deixar de o fazer, por isso quando nos mudámos para lá foi instantâneo. E tive muita sorte porque a minha mãe é uma pessoa muito calma e deixava-nos fazer tudo o que queríamos. Ela poderia estar sempre a controlar-nos, mas preferia deixar-nos à solta e aproveitarmos a vida. Como não havia muito dinheiro, porque era só ela a ganhar, e a ajuda do governo era pequena, tínhamos tudo o que era preciso, mas não em muita abundância. Havia comida suficiente na mesa, tinha uma prancha que não era muito boa, tinha uma bicicleta que também não era muito boa, mas ela levou-nos para o Havai e permitiu-nos uma vida diferente. Como no princípio era muito limitada, era no oceano que nos divertíamos. Foi uma paixão.
A sua mãe já viu estas ondas da Nazaré?
Sim, ela já cá veio e viu o tamanho das ondas, coisa que a deixou muita assustada. Só me dizia: "Tem cuidado" ou "elas são muito grandes". E eu sossegava-a dizendo que tomava conta das ondas e que não se preocupasse. O que eu queria é que ela nem olhasse para as ondas para não se assustar.
Com tanto perigo não posso deixar de perguntar se procura na religião alguma ajuda?
Eu acredito que há um poder maior, que é o Criador.
Sempre acreditou no Criador ou só após se confrontar com estas ondas?
Sempre acreditei. Há uma coisa que a minha mãe nunca nos escondeu: as várias religiões. Ela levou-nos até muitas religiões quando éramos crianças e víamos a diferença entre esta religião, aquela e a outra.
Aqui na Nazaré as pessoas também são muito religiosas. Frequenta alguma igreja?
Sim, são muito religiosas, mas nunca entrei numa igreja da Nazaré. Acredito que haja por aqui boas igrejas pois este povo é muito bom, com bons valores, modestos, mas eu não vou a lado nenhum antes de surfar. A minha igreja resume-se ao meu escritório, ao local onde me organizo.
Nunca tem momentos em que precisa de outra ajuda?
Há momentos em que toda a gente que está perante um grande desafio, principalmente se for bastante perigoso ou de uma dimensão gigantesca, sente falta de uma ajuda externa. Eu vejo muitas pessoas que estão perante situações perigosas ficarem assustadas e dizem "ajuda-me Deus", mas não é o meu caso.
Então que outras práticas não religiosas tem?
Yoga, porque é preciso relaxar o corpo e a mente. Aí, sim, também pratico todos os dias.
É a forma para conseguir estar preparado?
Eu faço um compromisso com o treino muito grande e começo a treinar a 9 de agosto, porque é o dia de aniversário do meu filho.
Tem algum lugar onde prefira treinar?
Por norma treino no Havai, mas treino onde estiver. O lugar só por si não tem tanta importância assim. Na Nazaré, preparo-me todos os dias e mais do que em qualquer outro lado porque as condições são mais perigosas por aqui. Corro, vou muito ao ginásio. Faço o meu próprio programa .
Se tivesse de fazer um retrato da sua vida, como a definiria?
A minha vida nos últimos cinco anos foi dedicada à Nazaré e a Portugal. Fora esta parte, a minha ocupação é observar o oceano e estar atento aos avisos vermelhos sobre as tempestades, porque sei que logo a seguir há grandes ondas. Neste ano vou para Puerto Escondido, no México , que é um dos melhores spots, mesmo que antes fosse muito habitual ir para a Indonésia. A minha vida é dedicada a procurar as ondas, que são a minha paixão.
O que sente com a resposta dos portugueses à sua presença?
Honrado e orgulhoso. É um sonho tornado realidade porque há miúdos que querem experimentar comigo o surf e creio que chamei a atenção de todo o país para este desporto.
Pode dizer-se que o seu vídeo com a onda gigante mostrou Portugal em todo o mundo.
Sim, é verdade, o mundo inteiro quis ver. Fico muito contente por Portugal e nunca me esqueço de que quando cheguei fiquei muito surpreendido com toda a recetividade.
E tão diferente assim?
É surpreendente e foi bom, pois entre todas as coisas que fiz na minha vida estavam as pessoas com quem convivia. Quero que tenhamos os mesmos objetivos, integrados numa equipa em que as empresas sejam parceiros. Quando vou fazer estas coisas gosto de ter a equipa envolvida no mesmo objetivo, e é isso que sinto em Portugal: todos unidos, a criar boa energia .
Como é o seu dia-a-dia?
Acordo às cinco da manhã todos os dias, algumas vezes às três, sempre cheio de ideias. O que é um perigo porque todas as noites mudo de planos e quero logo levantar-me para avançar. Mas como não posso estar sempre a mudar de ideias, obedeço ao esquema que está escrito num quadro.
É difícil focar-se num objetivo?
Tudo o que faço tem de estar nesse esquema para não me afastar do objetivo. Se lá diz vamos fazer isto o dia todo, é o que será. Quando acordo, olho para o esquema, já sei o que vou fazer e só posso decidir o que será o próximo dia. É bom às vezes não estar tão focado assim, mas é mais poderoso quando se encontra um objetivo e trabalhamos nele. Quando obtemos o que queremos, é uma boa sensação.
Quais são as suas ondas preferidas?
Nas Fiji há ondas perfeitas, no Taiti existem muito boas ondas. Agora estou entusiasmado para conhecer as da Madeira, dos Açores e do resto da costa portuguesa.
Fora da Nazaré não há ondas parecidas...
Pelo contrário, há muito boas ondas em regiões desconhecidas. Estou tão interessado em conhecer as outras regiões de Portugal, que me sinto como Vasco da Gama.
Há uma onda impossível?
Todas as ondas são impossíveis se as condições não forem boas. Há sempre limites mesmo com as condições certas, mas se forem erradas então é que existem imensas ondas impossíveis.
Tem alguma manobra preferida?
Tubo, que é que mais gosto. É um lugar em que estamos sós num mundo que é só nosso. Tudo fica diferente, como se se tratasse de uma cápsula do tempo em que estamos à mercê da onda enquanto nos deixa ficar lá dentro. Gosto de me divertir com as ondas e não há nada melhor do que o tubo para essa comunhão.
Quando experimentou estas ondas sentiu que passou para outro nível?
Foi em dezembro do ano passado, princípio deste que surfei as maiores ondas na Nazaré. Há ainda ondas maiores aqui para fazer.
A palavra desafio é das suas preferidas?
Eu não quero provar nada. Só gosto de me divertir e ocupar a vida com desafios que às vezes são difíceis.
Já se magoou. Ficou com medo?
É uma consequência com que se tem de lidar quando acontece. Se me magoo é sinal de que estou a fazer alguma coisa que não é a correta ou que devo reorientar a minha vida durante esse período para outras coisas. É tempo de repensar as coisas, de experimentar coisas diferentes em vários lugares do mundo. Eu quero ser capaz de apanhar estas ondas grandes até quando o meu corpo for capaz de o fazer e estiver a divertir-me. Quando isso não acontecer mais, é porque o meu corpo já não quer. Por isso, é preciso manter-me em condições para continuar a ter vontade.
"É preciso partilhar este país com o mundo"
Como tem visto Portugal durante esta crise económica?
A história repete-se constantemente e, por isso, acredito que tudo vai voltar a estar bem. Mesmo que todos estejam sem esperança, decerto que a situação vai mudar e todos vão voltar a ter o que perderam. O vosso país é fabuloso, só pode ser dessa maneira. É preciso pensar positivo.
Vê as notícias na televisão?
Eu não vejo televisão. O problema é que só me entrega energia negativa e faz uma limpeza cerebral a todos os espectadores. Recuso--me a ver televisão.
Mas sabe o que se passa no país, na economia e na sociedade?
A economia no que tem que ver com a população interessa-me, já a política é outra história.
Não se sente usado aqui em Portugal pelos políticos?
Há políticos em todo o lado.
Fez a Nazaré aparecer ao mundo e mudou o perfil de quem a visita. A autarquia deve estar-lhe agradecida...
Espero que sim, que gostem. Estou surpreendido que haja tantos turistas a visitar a Nazaré, só sei que isso é bom para a economia.
Com esta crise, não lhe fica mais difícil organizar os objetivos?
Tem tudo que ver com obedecer a um esquema organizado. Quando se tem um objetivo é preciso montar um esquema e cumprir o planeado numa atitude continuada. Mas é preciso apontar objetivos realistas e desenhar um esquema bem pormenorizado para se seguir com regra. Com um bom esquema e um bom objetivo, não importa o que de errado acontece no mundo.
Quando diz objetivos realistas são aqueles que se adaptam à situação vivida?
Temos de ser capazes de os adaptar e não ficar prisioneiros deles. Se as coisas fugirem um pouco do esquema inicial, então é questão de deixar deslizar um pouco os objetivos e transformá-los no que é correto e possível fazer. Se não nos adaptamos, deitamo-los abaixo. Alguma coisa mudou e eu queria estar neste ponto e não consegui. É preciso aceitar a realidade.
Quanto às atitudes dos políticos, o que acha dos portugueses?
Os políticos têm uma tarefa difícil, afinal governar um país não é fácil e é um grande desafio. Creio que os políticos em Portugal têm de ter um plano maior para mostrar o país a pessoas interessadas em vir ver as grandes ondas. E não é um plano difícil, porque todas as pessoas têm um grande respeito e interesse por ondas gigantes. Contar a história do país, do povo e do bom tempo é uma perfeita combinação para convidar o mundo a vir até cá e aumentar as receitas da economia com o turismo. Portanto, o meu objetivo é ajudar o turismo a crescer e ajudar o país a ser autossuficiente e a viver melhores tempos. É preciso partilhar este país com o mundo.
Não acha que os portugueses estão muito deprimidos?
Sei que sou um produto da minha sociedade, portanto tudo o que acontecer à nossa volta afeta-me. É preciso valorizar as coisas boas e positivas, e as pessoas muitas vezes não o fazem. Eu valorizo o regressar a Portugal.
Consegue ter patrocinadores para cobrir as suas despesas?
A única forma de conseguir fazer as coisas é ter bons parceiros e patrocinadores que suportem os nossos projetos e o que queremos fazer. Agradeço-lhes e tenho muito prazer em representar tantas boas companhias.
É patrocinado por um café. Gosta da nossa bica?
Sim, adoro café.